Mitsuko sentou-se numa cadeira feita de madeira de carvalho, não parava de pensar no sonho que havia tido na noite anterior. Estava tão distraída que não reparou que o almoço estava a queimar-se.
- Mitsuko! Desliga o fogão, estás a queimar a sopa! - Gritou sua mãe da sala de estar.
Mitsuko deu um salto da cadeira e rapidamente foi desligar o fogão.
Havia acabado de fazer o almoço quando o seu irmão apareceu na cozinha pedindo o pequeno-almoço, pois havia acordado e tinha fome.
- Tira o leite - disse Mitsuko e assim fez seu irmão - agora tira a tigela - seu irmão obedeceu e retirou a tigela - vai buscar o cereal - Hohaku foi a correr para a dispensa e retirou de lá uma caneca de cereal e colocou dentro da tigela - agora põem o leite na tigela - e mais uma vez, Hohaku obedeceu - ai tens o teu pequeno-almoço! – Mitsuko sorriu e voltou a mexer a sopa para não a queimar.
Hohaku olhou para tigela e depois para a irmã e repetiu o processo mais uma vez.
- Não vale! Fui eu que tive o trabalho todo!
Não foi difícil, foi? Para a próxima não precisas da minha ajuda.
Hohaku foi a correr para a sala e foi contar a mãe o que se havia passado. Mitsuko começou a rir-se e disse em voz bem alta para que ele pudesse ouvir: Anda lá comer!
Acabando de almoçar Hohaku perguntou a irmã se ela queria ir brincar com ele e como já não passavam muito tempo juntos, Mitsuko concordou.
Partiram para o parque.
Haviam chegado e Mitsuko sentou-se no chão. Observava o irmão e de vez enquanto olhava para o céu e para as nuvens decifrando as imagens que existiam nelas. Hohaku brincava perto de Mitsuko por isso, ela não se preocupava. Ficou a olhar para o céu e nem deu pelo tempo a passar. Levantou-se, olhou em redor e tentado encontrar seu irmão e concluiu, desesperadamente, que ele havia desaparecido. Mitsuko deu um salto e foi a correr a procura dele, mas por mais que procurasse, não encontrava-o. Mitsuko, já desesperada, gritou por Hohaku. De repente Hohaku saiu de uns arbustos, Mitsuko correu para ele e agarrou e começou a ralhar com ele.
- Onde estiveste?! Estava tanto preocupada! Não podes desaparecer assim do nada!
- Estava a brincar ali nas árvores maninha, tinha uma borboleta a voar e fui atrás dela. – Disse ele com medo que Mitsuko brigasse mais com ele.
- Avisa me antes! Podias ter te perdido ou magoado! E se algum animal perigoso te ataca? O que é que vou dizer a mãe? Para a próxima diz-me onde queres ir que vou contigo! - Ralhou Mitsuko.
- Ok maninha. Para a próxima digo-te logo!
- Acho bem! Vamos agora para casa que já é tarde.
Começaram a andar e ao passar para o caminho, Mitsuko viu algo a rastejar pelo chão, era castanho, cor da terra, por isso não notava se muito, mas Mitsuko tinha uma visão apurada, por isso notou de imediato que aquilo era uma cobra. - Hohaku, anda cá! – Começou ela a gritar. Hohaku já estava a correr e a saltitar quando parou e olhou para Mitsuko. Ao parar, pôs o pé em cima da cobra e a cobra mordeu-o.
Hohaku gritou de dor quando os dentes da cobra perfuraram a pele dele. Mitsuko começou a gritar e correu para o seu irmão.
- Hohaku! Estás bem? HOHAKU! – Gritou Mitsuko cheia de nervos
Mitsuko agarrou seu irmão e correu para a casa do curandeiro da vila, o velho Daisuke, perito em curar as mais complicadas e mortíferas doenças e picadas de animais. Ao chegar lá bateram a porta.
- Senhor Daisuke! Por favor! Ajude-nos! O meu irmão foi mordido por uma cobra! Por favor! Ele está a morrer! – Dizia Mitsuko engasgando-se em palavras e comendo outras.
Daisuke abriu a porta e mandou-a entrar rapidamente. Pegou em Hohaku e deitou-o na cama.
- Que cobra mordeu-o? – Perguntou ele rapidamente.
- Era castanha, tinha espinhos na cabeça e tinha manchas pretas – disse Mitsuko.
- Uma “Orochi Kuroi”! - Rapidamente, Daisuke levantou-se. – Onde é que ele foi mordido?
- Ao pé do parque, porque?
- Tenho que encontrar a cobra para fazer o antídoto! Fica aqui com ele! Não saem daqui!
Daisuke saiu a correr em direcção ao parque. Mitsuko agarrou a mão de Hohaku dizendo: Tudo vai ficar bem, tudo vai ficar bem! – Por favor! Se existe alguém que possa fazer algo, por favor, ajuda me! – Mitsuko continuava agarrada a seu irmão e começou a chorar, tinha esperança que acontecesse algo que lhe curasse o irmão, que Daisuke chegasse rapidamente e fizesse o antídoto, curando o irmão.
- Porque estás a chorar?
- Quem está ai?!
- Porque não ajudas o teu irmão se tens o poder de Lithius?
- Não estou a achar piada! Onde estás? Quem é Lithius?
- Estou na tua cabeça.
- Na minha…? Estás a dizer que estou a ficar doida?
- Não… Estou em cima da tua cabeça.
Mitsuko abanou a cabeça e um ser com casca de ovo caiu de sua cabeça. Esse ser pôs-se direito e olhou para Mitsuko, era uma casca de ovo com olhos, nariz e boca, tinha a casca rachada a meio da testa.
- Que foi? Nunca viste um Espírito da Vida? Chamo-me Haru, e tu? E vocês não dão a história de Lithius na escola?
- Espírito da Vida? Chamo-me Mitsuko… e acho que essa parte só vamos dar daqui a uns tempos…
- Eu sou o Espírito básico de Lithius, tenho o poder de curar o que quiser, dar vida a coisas mortas e isso tudo. E atravez de mim podes usar o meu poder, tal como podes usar o poder de outros espíritos de Lithius. Podias usar um poder de cura e o teu irmão sobrevivia, porque não o fazes?
- Porque eu não sei o que fazer!
- É tão fácil! Basta quereres! Quatro palavrinhas bastam para este tipo de problemas! – Cantarolava Haru.
- E como sei se o que estou a fazer é certo? Como sei o que é que estou a fazer? – Mitsuko começou a ficar aflita por não saber o que fazer, ficando sem ar.
- Calma, eu vou explicar-te o que tens que fazer! Repete tudo o que eu digo! - Haru começou a citar: Kei, Sosei Ikinoo Shou. Mitsuko repetiu o que Haru disse e de repente, uma luz envolveu seu irmã, retirou um liquido que provavelmente era o veneno da cobra e fechou os dois buraquinhos que tinha na perna, e passados segundos, acordou.
- Hohaku! Estás bem? Tens alguma dor? Sentes algo? – Começou Mitsuko a lançar perguntas preocupadíssima, olhou para Haru para agradecer-lhe mas este tinha desaparecido.
- Maninha, que se passa? Onde estamos?
Mitsuko abraçou seu irmão e começou a chorar de alívio. Ambos foram para casa, na cabeça de Mitsuko as palavras de Haru ecoavam na sua mente. Na janela de Mitsuko, havia uma planta, essa planta já estava a morrer e Mitsuko disse as mesmas palavras: Kei, Sosei Ikinoo Shou. Para espanto de Mitsuko, a planta envolveu-se com uma luz dourada e passado uns segundos tinha revigorado e voltou a ter a vitalidade que lhe era natural. Só no dia a seguir é que se lembro do pobre Daisuke que havia ficado a procurar a “Orochi Kuroi” que havia picado o seu irmão. Havia prometido a si própria pedir desculpas a ele no dia a seguir e assim o fez.