Chegou a noite e o jantar foi colocado na mesa.
Mitsuko sentou-se sem abrir a boca, seu pai havia chegado e também não havia dito uma palavra.
Mitsuko tomou coragem e foi a a primeira a falar:
- Pai, como correu o trabalho?
Mitsuko foi ajudar sua mãe a lavar os pratos e quando acabou foi para a cama e por muito que tentasse, não conseguia adormecer.
Aquele sentimento de preocupação fluía em si como o seu próprio sangue. Sem conseguir dormir, levantou-se, agarrou numa folha de papel e num caneta e sentou se na cama e escreveu:
"Querido Pai, querida Mãe, eu amo-vos muito, porém não quero ser nenhum problema para vocês os dois, desde que nasci que sou um fardo.
A razão pela qual eu estive durante tanto tempo inconsciente foi porque uma coisa que radiava uma luz muito intensa e entrou em mim e sabe-se lá Deus o que fez em mim, eu sei! Eu vi com os meus próprios olhos!
Eu estou a escrever esta carta para me despedir de vocês... porém não sou capaz de vos deixar, voces são tudo o que eu tenho!
Já estou a chorar... a folha já está toda borrada de tinta...
não consigo..."
A chorar, Mitsuko deitou-se, adormeceu passado muito tempo, já com a almofada cheia de lagrimas, deixando a carta em cima da mesa.
Mitsuko acordou.
Estava melhor do que no dia anterior e ao lembrar-se da carta olhou para a mesa, a folha não estava lá. Saltou da cama e começou a procurar. Debaixo da cama, na cadeira, atrás da mesa, debaixo da mesa, nada!
Não havia sinal de folha independentemente do sítio onde Mitsuko procurasse.
Foi para a sala devagar, tentando não ser detectada por ninguém. Passou pelo sofá, pela lareira e não havia sinal de ninguém, nem o seu gato Neko que costumava estar deitado no sofá todas as manhãs.
Foi a cozinha, não havia lá ninguém, sua mãe acordava bem de manha para preparar o almoço e o pequeno-almoço.
Foi ao quarto do seu irmão, mas também ele havia desaparecido.
Foi a correr para a porta da rua.
"Certamente haverá comerciantes e pastores na rua" - pensou ela.
Abriu a porta e nem animais havia na rua, até as moscas que no início do Verão costumavam evadir as aldeias haviam desaparecido.
Mitsuko foi a correr para a casa do governador da aldeia, bateu a porta mas ninguém a respondeu, decidiu ir a casa ao lado e o mesmo aconteceu, repetiu o mesmo varias vezes com varias casas e o mesmo se passou.
Foi para casa com a cara lavada
Comeu e decidiu ir para o local onde havia caído o meteorito.
Estava lá! A cratera, a erva queimada, as árvores partidas, tal como havia acontecido a um mês atrás.
Foi para o centro da cratera e tocou no locar de impacto, estava frio. Não havia nada lá.
Respirou fundo e saiu da cratera.
- Allo!? Consegues ouvir-me? – Perguntou uma voz feminina como se fosse a vizinha do lado
Mitsuko olhou para trás com o coração já cheio de felicidade por haver outra pessoa ali com ela.
Não havia ninguem, olhou para todos os lados e não viu nada, atreveu-se ainda a olhar para o chão – Quem falou? – Perguntou ela.
- Chamo me Aimi, e tu?
- Aimi? Não conheço nenhuma Aimi. Quem és tu? Onde estás?
- Claro que não, eu sou um espírito e fora deste mundo eu não existo! Este é o mundo dos Espíritos. Tu vieste para aqui sabe-se lá porque, não costumamos ter visitas. Infelizmente começaste a chorar e todos os outros espíritos que estavam a ver-te fugiram, além do mais tu és feita de algo, eu nem sei do que sou feita e eu estou aqui em cima.
- Está sol, não te consigo ver.
- E agora?, estou atrás de ti - Perguntou Aimi.
Mitsuko virou-se e olhou para Aimi e caiu no chão.
- Desculpa, assustaste-me.
- Ehh, já esperava essa reacção de ti - Aimi começou a rir-se devagar e depois parou - então, porque estás aqui?
- Sou a Mitsuko e acordei aqui, eu não fiz nada para vir aqui parar.
Aimi pareceu pensativa.
- Se calhar basta ires dormir para voltares ao mundo dos vivos.
- Mas agora não tenho sono, podes mostrar me como é o mundo dos Espíritos?
- Não tem diferença nenhuma do mundo dos humanos, basicamente quando constroem algo novo a construção aparece por si.
- Ah, ok.
De repente passaram outros dois espíritos por elas, Mitusko olhou para ambos e eles olharam para ela e sem parar passaram por uma árvore e saíram pelo outro lado passados poucos segundos.
- Giro não achas? Eu cheguei aqui vai fazer trezentos anos, ainda não me cansei de fazer isso - disse Aimi a rir-se.
Mitsuko sorriu.
- Achas que vamos voltar nos a ver? Quero dizer, eu não sei como vir para aqui por isso não sei se vamos voltar-nos a ver.
Se alguém nos chamar no vosso mundo e obrigar nos a ir para lá, conseguimos andar lá até o feiticeiro nos mandar de volta, pelo menos é o que me contaram quando vim para aqui. Por isso pode ser que nos vejamos outra vez. - Aimi sorriu e abriu os braços - Ser espirito é muito fixe! Um dia, quando vieres para cá, passeamos pelo mundo e se um dia te tornares uma feiticeira, chama-me e diz-me que és tu que estás a chamar me para falarmos um bocadinho.
Mitsuko sentiu uma onda de calor a evadi-la, havia algo a passar-se em si.
- Estou a sentir-me quente e tu? - Perguntou Aimi abanando os braços na sua direcção.
Mitsuko olhou para o pescoço de Aimi e algo parecendo uma letra estava a formar-se lá. Passado um bocado de tempo, o símbolo tornou-se visível e ao invés de uma letra era uma runa. Era composta por três ricos na parte superior um quarto a dividir uma outra parte de baixo e outros dois por baixo criando algo parecido com a palavra Mitsu que significava Luz.
- Tens algo no pescoço, o que é?
- No pescoço? Diz o que? Acho que é o símbolo que pertenço a algum magico, diz me o que é, vá-la! - disse Aimi impacientemente.
- Acho que diz Luz, Mitsu.
- Não disseste que chamavas-te Mitsuko?
- Sim... achas que... mas eu não tenho magia! Eu nem sei fazer magia!
- Calma, vamos pensar, pode ser que sabes fazer magia, mas... não o sabes ainda?
- Achas mesmo? Quer dizer... eu tenho o crescimento acelerado, achas que é magia?
- Não sei... pode ser um sinal que...
Nesse momento um furacão apareceu no meio de ambas e Mitsuko foi como sugada pelo mesmo.
Mitsuko acordou na sua cama, olhou para as suas mãos, saiu da cama e ao lembrar-se da carta olhou para lá, a carta ainda estava lá.
Rasgou a e atirou a para a lareira. Ainda não estava na sua hora de se aventurar pelo mundo fora.